
Mais um dia! Mais um dia da minha história perdida na perdida história dessa minha cidade. As vezes eu não sei mais quem é que parou no tempo, se fui eu ou se foi ela, mas o fato é que estamos estacionados observando o futuro descer pela descarga da privada.
Como é ruim a sensação de parar no tempo, mas pior ainda é a sensação de impotência quando tentamos mudar as coisas e simplesmente não conseguimos. Uma, duas, três, quatro vezes, até que a gente desiste, não se conforma, volta a tentar e um dia percebe que certas coisas não acontecem porque não dependem só da nossa vontade.
Não. Não estou atrasado. Nem sei aonde eu to indo e o que eu vou fazer. Falar o que? Pareço um prisioneiro trancafiado numa cela solitária, sem ter pra onde ir. Preso nessa cidade insólita e tão sem identidade quanto eu. E a verdade é que, sem rumo, caminhamos lado a lado, desesperados e aflitos procurando a razão da própria existência, se apoiando em nossas bengalas, com os olhos vendados e submetidos ao silêncio absoluto do vaco. Cegos, mudos e perdidos num escuro e sombrio esquecimento.
Desorientados percorremos longos caminhos que não levam a lugar nenhum. É como se estivéssemos parados no tempo e fossemos reféns do próprio provincianismo e quanto mais se tenta encontrar uma saída mais becos surgem pelo caminho. Não aguento mais a sujeira desses becos escuros que exalam esse cheiro podre no ar. Alguns parecem gostar desse cheiro, mas a questão é que todos parecem sentir e preferem usar suas máscaras a resolver o problema.
Já não sei se preciso mais dela ou se ela ainda precisa de mim, mas parte do meu mundo é aqui e não tenho porque negar, mas este pequeno pedaço de terra já não comporta mais o peso da angustia e da tristeza que carrego em meu peito, por constatar que nada mais pode ser feito. Hoje é pior do que ontem e ontem já ficou para trás.
É hora de partir, não vou mais ficar estacionado, vou atravessar a linha divisória e finalmente me libertar. Já passou da hora de crescer de verdade e se tornar o melhor possível. A partir de agora minha cidade será um lugar que guardarei no coração, mas as vezes é preciso mudar e é preciso dizer adeus!
Porque tenho que dizer adeus?
Porque só assim, talvez, consiga leva-la comigo além dos limites da fronteira ou para onde quer que eu vá.