sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Porque tenho que dizer adeus


Mais um dia! Mais um dia da minha história perdida na perdida história dessa minha cidade. As vezes eu não sei mais quem é que parou no tempo, se fui eu ou se foi ela, mas o fato é que estamos estacionados observando o futuro descer pela descarga da privada.

Como é ruim a sensação de parar no tempo, mas pior ainda é a sensação de impotência quando tentamos mudar as coisas e simplesmente não conseguimos. Uma, duas, três, quatro vezes, até que a gente desiste, não se conforma, volta a tentar e um dia percebe que certas coisas não acontecem porque não dependem só da nossa vontade.

Não. Não estou atrasado. Nem sei aonde eu to indo e o que eu vou fazer. Falar o que? Pareço um prisioneiro trancafiado numa cela solitária, sem ter pra onde ir. Preso nessa cidade insólita e tão sem identidade quanto eu. E a verdade é que, sem rumo, caminhamos lado a lado, desesperados e aflitos procurando a razão da própria existência, se apoiando em nossas bengalas, com os olhos vendados e submetidos ao silêncio absoluto do vaco. Cegos, mudos e perdidos num escuro e sombrio esquecimento.

Desorientados percorremos longos caminhos que não levam a lugar nenhum. É como se estivéssemos parados no tempo e fossemos reféns do próprio provincianismo e quanto mais se tenta encontrar uma saída mais becos surgem pelo caminho. Não aguento mais a sujeira desses becos escuros que exalam esse cheiro podre no ar. Alguns parecem gostar desse cheiro, mas a questão é que todos parecem sentir e preferem usar suas máscaras a resolver o problema.

Já não sei se preciso mais dela ou se ela ainda precisa de mim, mas parte do meu mundo é aqui e não tenho porque negar, mas este pequeno pedaço de terra já não comporta mais o peso da angustia e da tristeza que carrego em meu peito, por constatar que nada mais pode ser feito. Hoje é pior do que ontem e ontem já ficou para trás.

É hora de partir, não vou mais ficar estacionado, vou atravessar a linha divisória e finalmente me libertar. Já passou da hora de crescer de verdade e se tornar o melhor possível. A partir de agora minha cidade será um lugar que guardarei no coração, mas as vezes é preciso mudar e é preciso dizer adeus!

Porque tenho que dizer adeus?

Porque só assim, talvez, consiga leva-la comigo além dos limites da fronteira ou para onde quer que eu vá.